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Exercício Físico na Gravidez, sim ou não?


Nos últimos anos tem-se verificado um crescente nível de prática de exercício físico e da preocupação com a saúde e bem-estar.

O exercício físico tornou-se um elemento central na vida de muitas mulheres, mas ainda assim observa-se que apenas cerca de 15% das grávidas cumprem as recomendações de atividade física.


Isto verifica-se, porque quando a grávida se questiona sobre se será seguro e saudável praticar exercício físico, o contexto que a rodeia não é na maioria das vezes o mais esclarecedor e o receio de cometer erros, leva-a a seguir os exemplos que lhe são mais próximos (mãe, irmãs, amigas). O problema é que na maioria dos casos, estes exemplos não foram suficientemente ativos e o padrão repete-se. Para além disto, ainda há alguns médicos que por precaução ou desconhecimento, não recomendam o exercício físico neste período, o que gera ainda mais receio até mesmo nas grávidas que já eram bastante ativas e que gostariam de o continuar a ser.


Mas então o que deve fazer a grávida? É seguro treinar? Trará o exercício físico algum benefício para a grávida e para o feto?

O que a evidência científica demonstra é que sim, a prática de exercício físico é segura e recomendável na gravidez, exceto se existirem contraindicações médicas (consultar o artigo 1).

No caso de uma gravidez saudável, a prática de exercício físico tem inúmeros benefícios não só para a grávida como para o feto. Contudo, devido às novas características anatómicas e fisiológicas da mulher durante a gravidez, nem todos os tipos de exercício são recomendáveis. Devem ser evitados todos os exercícios ou desportos que envolvam contacto físico ou tenham um grande risco de queda, porque podem provocar traumas no feto, assim como atividades de mergulho, uma vez que o feto não está protegido contra a doença de descompressão e embolismo de gás [2].


Qual é então o tipo de exercício que a grávida deve fazer e quais os seus benefícios concretos?

As recomendações internacionais para a prática de exercício físico na grávida são as seguintes:

- Prática de pelo menos 150 minutos semanais (30 minutos por dia) de atividade física moderada;

- A atividade física deve ser distribuída por pelo menos 3 dias da semana, sendo encorajada a prática diária;

- A grávida deve incorporar atividades/exercícios aeróbios e de força na sua rotina. Adicionar Yoga ou alongamentos suaves pode também ser benéfico.


Estas recomendações de duração e frequência, referem-se aos valores mínimos a partir dos quais, os benefícios para a grávida e o feto passam a ser significativos.


Contudo, um aumento nestes níveis de atividade física em duração, frequência e volume, está associado com maiores benefícios [1].


O cumprimento destas recomendações está associado aos seguintes efeitos benéficos:

- Menor probabilidade de desenvolver diabetes gestacional [3];

- Menor probabilidade de desenvolver pré-eclampsia (complicação caracterizada por uma pressão arterial elevada, juntamente com disfunção de outros órgãos como o fígado ou os rins) [3];

- Menor probabilidade de desenvolver hipertensão gestacional [3];

- Menor probabilidade de desenvolver depressão pré-natal [4];

- Menor probabilidade de macrossomia (recém-nascido com peso muito elevado) [5];

- Menor necessidade de parto por cesariana [6];

- Melhor trabalho de parto, devido a um menor ganho de peso e de mudanças

hormonais que têm impacto na contractilidade e resistência uterina [7].


Para além destes benefícios, e em oposição a algumas crenças e mitos, a prática recomendada de exercício físico não aumenta a probabilidade de parto prematuro, baixo peso no recém-nascido ou de aborto espontâneo [5].


Em suma, a mensagem deste artigo é que, na ausência de contraindicações, todas as grávidas podem e devem praticar exercício físico com intensidade moderada, sem que isso traga complicações para si ou para o seu futuro bebé. E que pelo contrário, essa prática trará inúmeros benefícios, tanto físicos, como psicológicos.

Para terminar, é importante lembrar que antes de iniciar qualquer programa de exercício, a grávida deverá consultar o seu médico para despistar qualquer tipo de contraindicação.


Telmo Freitas


Referências:

1 – Mottola MF, Davenport MH, Ruchat S-M, et al. 2019 Canadian Guideline for physical activity throughout pregnancy. Br J Sports Med. 2018;52:1339-1346.

2 - Camporesi EM. Diving and pregnancy. Semin Perinatol 1996;20:292–302.

3 - Davenport MH, Ruchat S-M, Poitras VJ, et al. Prenatal exercise for the prevention of gestational diabetes mellitus and hypertensive disorders of pregnancy: a systematic review and meta-analysis. Br J Sports Med 2018;52:1367–75. 

4 - Davenport MH, McCurdy AP, Mottola MF, et al. Impact of prenatal exercise on both prenatal and postnatal anxiety and depressive symptoms: a systematic review and meta- analysis. Br J Sports Med 2018;52:1376–85.

5- Davenport MH, Meah VL, Ruchat S-M, et al. The impact of prenatal maternal exercise on neonatal and childhood outcomes: a systematic review and meta-analysis. Br J Sports Med 2018;52:1386–96.

6 - Davenport MH, Ruchat S-M, Sobierajski F, et al. Impact of prenatal exercise on maternal harms, labour and delivery outcomes: a systematic review and metaanalysis. Br J Sports Med 2018.

7- Ruchat S-M, Mottola MF, Skow RJ, et al. Effectiveness of exercise interventions in the

prevention of excessive gestational weight gain and postpartum weight retention: A systematic review and meta-analysis. Br J Sports Med 2018;52:1347–56.


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